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O encontro no “Chá com Letras” deste dia 12 de fevereiro voltou a saber a pouco. A Excelência dos Afetos entrecruzada com a qualidade e a originalidade dos momentos culturais contribuiu, mais uma vez, para aprofundar a certeza de que a resiliência é a base fundamental de ajuda para a ultrapassagem dos obstáculos que a vida impõe, nem sempre de ânimo leve.

O próximo encontro fica aprazado para o dia 19 de março, à mesma hora e na mesma Sala Zoom, com a proposta de celebração da “Primavera”.

Até lá, despedimo-nos com “Afetuosamente”...

“Afetuosamente”

Effy e Emma são minhas amigas.
Isto é, são familiares. Enfim, são amigas que pertencem à família. É um afeto peculiar, mas estou certa da sua afeição, embora nunca a tenham verbalizado.

São mãe e filha, respetivamente. A discordância de caraterísticas é evidente num primeiro olhar, uma é preta e a outra alourada. Relacionam-se de forma estupenda, não obstante as especificidades inerentes a cada personalidade.

A mãe, Effy, é inteligente e perspicaz. A sua marcha, lenta e cautelosa, denuncia um caráter reservado, altivo e algo misterioso que lhe advém de um início de vida penoso e conturbado. Foi adotada de uma instituição que a resgatou de um destino de sofrimento ou mesmo morte anunciada. Conheci-a ainda muito pequena, de olhar tímido e assustado, suplicando por carinho e aconchego. Foi-lhe dado aninho e conforto mas, as marcas da sua génese perduram no seu temperamento, por vezes áspero e rude. No entanto, refira-se que, ao longo dos anos, desenvolveu um sentimento de estima inabalável, para com os que a acolheram e ameigaram.

Por uma circunstância invulgar, acabou por deparar-se com mais uma situação penosa para a qual nunca tinha sido preparada, a maternidade. Apoiei-a nesta experiência dolorosa mas gratificante, o que ampliou o sentimento que já nos unia. A sua cria passou a ser o seu foco, protegendo, tutelando, orientando, folgando e mimando. É com êxtase que observo a forma como um espírito agreste se transfigura e espelha a brandura e a meiguice que a maternidade desenvolveu no seu íntimo.

A filha, Emma, viu o mundo num equinócio de primavera, em que a quietude da noite, ainda fresca, apenas foi quebrada pelos débeis gemidos da mãe, provocados pelo sofrimento infligido. Cresceu rodeada de conforto, proteção e afeto, construindo uma personalidade meiga, afável, descontraída, sociável, saltitante,... feliz.

Frequentemente, solicita atenção e carinho; salta para o meu colo, sempre que a oportunidade surge; enrosca-se nas minhas pernas para uma soneca aconchegante; segue os meus passos como uma sombra e tem o poder incomum de apaziguar a minha irritação com o seu olhar castanho, silencioso, inocente e doce.

Estamos, definitivamente, unidas pela reciprocidade na dedicação e o vínculo afetivo assumido. Effy e Emma são duas cadelas. Amigas que fazem parte da minha família.

(Texto original, apresentado e lido no Chá com Letras de 12 de fevereiro de 2021, pela autora professora Cristina Ramos, bibliotecária do Agrupamento de Escolas de Águeda).

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